Bernardo Biagioni
quarta-feira, dezembro 24, 2008
Testamento Mineiro
Bernardo Biagioni
quarta-feira, dezembro 17, 2008
De dentro da Heineken (II)
Bernardo Biagioni
sexta-feira, dezembro 12, 2008
4:00am
Desgraçada.
Bernardo Biagioni
quarta-feira, dezembro 10, 2008
Sonho erótico de uma noite de Verão
Bernardo Biagioni
sexta-feira, novembro 21, 2008
B.B.
quarta-feira, outubro 08, 2008
Cansei
Bernardo Biagioni
terça-feira, setembro 09, 2008
Estrada
Bernardo Biagioni
domingo, setembro 07, 2008
Desencontro Marcado
Bernardo Biagioni.
sábado, agosto 30, 2008
Corra.
Bernardo Biagioni
terça-feira, agosto 05, 2008
Valsinha V
Bernardo Biagioni.
quarta-feira, julho 30, 2008
Valsinha IV
Bernardo Biagioni.
terça-feira, julho 29, 2008
Valsinha III
segunda-feira, julho 14, 2008
Não sei não!
Bernardo Biagioni
quinta-feira, maio 08, 2008
Camping & Rock - Paranóia e Rock and Roll
Lembro de estar subindo uma montanha de lama com uma velocidade anormal. O único barulho que se ouvia vinha dos acordes da guitarra da banda Pink Floyd Reunion que lançava suas últimas lamúrias progressivas no palco. Minha respiração oscilava entre um momento e outro. Eu precisava de trabalhar, o Senhor do Jornalismo seguia clamando por meu nome. Estava frio, tão frio que meu corpo se expressava nas baforadas de fumaça que fugiam pelo canto entreaberto da boca. E eu corria, estou sendo seguido, sei que estou seguido, mas quem vem lá?
Mas, como era de se esperar, nos primeiros passos traçados por aquele terreno sagrado, minha consciência ficou perdida no vaso de água parada logo na entrada do camping. “Estou livre”, pensei e me orgulhei de ter despido os meus preceitos mais singelos. E essa parada de tomar banho ficou perdido num imaginário comum das cabeças que circulavam por ali. Não que eu tenho ficado quatro dias sem lavar os meus pecados com a graça que vem do céu, mas o meu único banho foi tão memorável quanto tenebroso.
Haviam me dito que o chuveiro ficava lá em baixo, ao lado do restaurante. Acordei o Raul, um amigo, gritando que uma aranha venenosa estava entrando pela fresta de sua camisa desabotoada. O sujeito levantou dando início a uma dança de “Sai Aranha” que durou alguns minutos. É claro que neste simples ato ele conseguiu demais proezas, tais como derrubar o lampião e transformar a barraca numa zona de “Coloquem fogo em mim, eu imploro”.
Passado o clima ruim provocado pela “puta brincadeira infantil, Bernardo”, perguntei sobre a localização da ducha quente mais próxima. “Eu te levo”, ele resmungou enquanto calçava umas sandalhinhas de Jesus. Eu devia ter imaginado que ele estava me levando para alguma treta, mas a ducha da piscina parecia um lugar razoável para um banho tranqüilo. Fingi que era invisível, fiquei de cuecão e encarei a água gelada enquanto os passantes cruzavam o cenário com olhares curiosos.
Mas a merda da água estava tão fria que minha visão começou a ficar turva. Eu colocava a cabecinha nos fios de líquido que saiam do buraquinho e saia correndo em volta da piscina, à procura de um calor remanescente dos últimos raios de sol. Descolei um sabonete desses de hotel e pintei-me de branco. Nesse maldito momento o chuveiro engasga, faz que “Vai”, mas não vai. Daí fica eu com o olhar perdido no horizonte, de cueca, todo branco e com o sabonete do hotel na mão. O Raul sorria: “Faz a dança do Sai Sabão agora, doidão!”
Quem dera ter água na piscina, sei que você pensou nisso. Tive que me lavar com a compra de 2L de água mineral, com direito a risadas por todo ambiente de trabalho. Mas tudo bem, “Eu sou melhor que isso”, pensei enquanto jogava meu couro cabeludo para trás. Enrolei-me na toalha e segui para nossas instalações porque eu ainda tinha que fazer duas entrevistas naquele dia.
segunda-feira, fevereiro 11, 2008
Pânico, Suor e Gotas de Álcool
Às 5 horas da madrugada já estávamos suficientemente bêbados para aceitar qualquer proposta, mesmo que fosse o convite de um amigo chapado, 48 horas sem dormir e recém corneado pela amada namorada: “Ei, que tal um rolé no jipe sobrevivente da segunda guerra mundial do meu pai?” Não houve tempo para anseios ou hesitações. Embarcamos no brinquedinho extasiados com a idéia de percorrer os tempos áureos de uma revolução sangrenta que dominou todo o mundo pela década de 40. Neal, o amigo motorista, subiu na máquina com tamanha dificuldade que assustou as duas princesas que se ajeitavam no banco inteiriço da frente. O sujeito tinha um cigarro preso aos lábios de tal maneira que podia arriscar um salto mortal para trás seguidas vezes que ele permaneceria intacto. Apoiei-me na roda para subir na parte traseira do jipe, e ali dividiria espaço com uma espécie de japonês maluco que eu havia conhecido a segundos. O ronco do motor assustou uma série de andorinhas que bebericavam uma poça de água em algum canto da casa, e olhos mais atentos poderiam ter avistado uma série de avestruzes cruzando o horizonte em busca de um terreno mais ameno. Uma montanha de cascalhos se ostentava logo a frente do nosso caminho. Os primeiros raios de sol rasgavam o horizonte dando uma impressão macabra para a natureza mergulhada no orvalho matutino. Neal engatou a primeira marcha e virou o rosto para trás lançando um olhar que poderia dizer ‘pânico’, não fosse pela minha indiferença e dificuldade em discernir ate mesmo um cachorro de um passarinho. A máquina saiu engasgando adiante, oscilando entre morrer e viver, o cano de descarga lançava lamúrias no tempo recém-acordado da paisagem mineira.
Bernardo Biagioni
segunda-feira, fevereiro 04, 2008
Fudeção Bebop
Os versos vieram tropeçados, balbuciados pelo contratempo temeroso de um solo de jazz construído nos mínimos detalhes de uma melodia sinfônica. Correram o ar ferindo o timbre nada-tímido do piano que seguia transformando a canção. Ela fitou-me os olhos, arrastou o sapatinho pequenininho pelo assoalho sujo e veio rodando a saia rodada no tempo seco. Tive medo, saí me despejando para a lateral enquanto ela sorria os passos pela madeira surrada, deixava-se debater pela porta da sala entreaberta e escorria o corpo pela parede até tocar o dorso no chão. O sax brigava com a tranqüilidade do tempo, nada de voz, gritos, sussurros ou gritinhos. O bebop continuava estalando o ar, a freqüência ininterrupta dos acordes consumindo cada pedacinho do quarto apagado pela malevolência dos dias. Dei-me por vencido e cai sobre seus pés implorando uma única miserável dança. Aceitando ou não ela ergueu-me sobre seus seios, cravou seus braços pelas minhas costas e me colou junto ao teu corpo de uma maneira desleal. Olhei para os lados, procurei por ajuda, mas o relógio de ponteiros pendurado na parede anunciava que já era tarde demais. Jogou-me na cama, pulou por cima, segurou pelo lado e sussurrou junto com o contra-baixo que palpitava pelas caixas de som: “Se fudeu”. Não, não, errou. Quem terminou fudido não fui eu.
Bernardo Biagioni
quinta-feira, janeiro 24, 2008
Trincando na Lâmpada da Heineken – Primeiro Eu, Você é o Próximo!
Estranho pra caralho. Atravessava o trilho do trem enquanto corria os olhos para onde a linha da maquinaria se perdia, um horizonte inacabado típico de sertão mineiro. Suava feito um gordo maltratado por horas ininterruptas de futebol dominical. Desviei minha atenção para o pedaço de cogumelo que tentava não tropeçar e acabei dando de cabeça no que parecia ser um vestígio de armadura de idade média. Só então percebi que Keurack me olhava, tinha sangue nos olhos como se houvesse sido baleado a segundos por uma Mágnum 157 ou uma arma potencialmente agressiva. Ele não percebia que sua visão estava turva, seus olhos haviam inchado cerca de 5cm ou mais e dava um aspecto aterrorizante: “Um inseto me mordeu”, por fim ele disse. Mais tarde ele descobriria que era algum tipo de réptil em extinção que lhe causaria problemas sérios, talvez uma possível amputação do órgão visual direito. ‘Tudo bem’ pensei, ‘Foda-se este cara, brincou com uma geração de beatniks e pulou do barco quando a brincadeira pegou fogo’. Mais a diante um ser hermafrodita tentava saltar de uma parede com uma dificuldade incrível. Chegando perto pude ver que era Capote, completamente noiádo, algum tipo de droga psicodélica estava zunindo seus ouvidos. A bicha louca se atracava num poste tentando algum tipo de junção que não poderia se capaz de entender. E eu continuava suando, algum tipo de objeto magnético limitava os valores dos meus movimentos, dando uma força estúpida para a gravidade que me atormentava os passos. Por um segundo um calafrio rompeu pela minha espinha fazendo que eu me curvasse instantaneamente para trás, não havia dúvidas, eu estava sendo seguido. Algum músculo posterior do meu corpo fez com que meus passos fossem acelerados, num sinal claro de que a adrenalina começava a fazer efeito assim mesmo que entrou em contato com a corrente sanguínea. Algum tipo de negro maluco vinha correndo com um instrumento de sopro na mão, na camisa dava para ler uma frase que parecia dizer: “Birth of the Cool”. Não há de ser Miles Davis, este aí já revira no sarcófago como se ainda estivesse sendo consumido por um solo de jazz interminável. ‘Tem que ter algum tipo de saída deste lugar’ pensei enquanto acelerava ainda mais o meu passo. Olhei para trás e percebi que uma multidão de hippies malucos me seguia, os olhares eram de paz, mas um medo desumano percorreu cada milímetro do meu corpo num pedido ensurdecedor: ‘corra, esse bando de maluco vai chupar seu sangue’. Assim que pensei em acionar algum tipo de dispostivo que pudesse me colocar em voô em segundos acabei tropeçando numa garrafa de Heineken 700ml que jazia prostrada no meio de um lamaçal violento. Antes que pudesse retomar o fôlego perdido para a correria depravada fui subitamente sugado pela garrafa, numa cena típica de Aladim e lâmpada mágica. Entrei, sentei e curti. É daqui que eu escrevo. E daqui eu não saio. Welcome Home.
quarta-feira, janeiro 16, 2008
Brincando com Gardel
Carlos Gardel arrastou-a para um passo de tango, brincando com o tempo que aguaçava o vidraçal. Ela ergueu-se no ponto, deu de ombros e apresentou-se ao coral. Pois antes de chegar bem perto, fuzilou-o com os olhos, correu os dedos pelos cabelos e fechou o sorriso. Brincou com o vestido rodado, o sapatinho desamarrado e as pulseiras nos pulsos. Arrancou um fino da vitrola, arranhou o disco negro e colocou na faixa seguinte. Carlos cantava, ela se entreolhava no espelho com um suspiro azedo de quem diz: me ajuda! Mas parecia bem, tão bem que sorriu de novo, arrastou-se pelos quatro cantos do quarto recordando a velha canção. E estirou-se na cama, feito uma boneca mal-tratada, uma camiseta mal-lavada pelo destino incerto. Tão logo deitou, tão logo rasgou seus verbos, inúteis trocadilhos perversos que judiavam da poesia. Sorveu do vinho vencido e reclamou do vinagre que passou a lhe consumir a serenidade do estômago. Por fim, deu-se por vencida, levantou decidida e esticou a mão direita: “Garçom, se puder peço que me traga a conta! E vou logo avisando, pode dependurar essa merda de couvert pela ponta, que hoje eu não pago não.”
Bernardo Biagioni
quinta-feira, janeiro 10, 2008
Tempos Estranhos
Olhe bem em volta meu amigo, os tempos estão estranhos. Esperava o ônibus escondido sob um toldo minúsculo, os pingos de chuva pintavam minha camisa e meu nobre-companheiro-vizinho-de-espera-do-ônibus não cedeu nem mesmo um cantinho no verdadeiro guarda-sol que carregava. Tanto faz, mais tarde ele iria passar por poucas e boas. Corri a mão pelos bolsos para resgatar um pedacinho daquele velho fone de ouvido, peguei-o antes que tocasse o chão colorido por chicletes antigos.
Ao reerguer a cabeça estava trocando olhares com o motorista da linha 747, ele gritava e abanava os braços como se fosse um macaco: “não vai subir não, ô idiota?”. Pelo menos foi o que eu consegui escutar, não hei de saber o que havia dito antes ou depois, o som nos meus ouvidos já estavam altos
Para fazes jus ao ambiente “sauna gay” um moleque baixinho cuidando bem mal de seus 12 anos levantou no meio da muvuca: “Boa tarde. Poderia ta matando, seqüestrando ou estuprando as madames. Mas to aqui pra vender pedras de eucalipto. Você pode colocar no seu carro, no seu quarto, no banheiro e vai ficar esse cheirinho bacana!” Um sujeito de sunga levantou bem no fundo do “balaio” e ofereceu seu lance: “É meu! Pago 20 merréis nessa porrinha!” Ninguém entendeu merda nenhuma. O amigo levantou enquanto deslizava as mãos pela face buscando uma pitada de suor para auxiliar na contagem das notas.
A situação se normalizava, algumas janelas eram abertas para evacuar aquele cheiro enjoativo e uns engraçadinhos emparelhavam o carro na velocidade do busão gritando freneticamente: “Eii seu motô me dá uma bola desse eucalipto aí”. E os filha-da-puta riam desesperadamente enquanto dichavavam-enrolavam-e-cochavam o próprio baseado.
Uma freada brusca colou o corpo enrugado de uma senhora de idade no vidro dianteiro da embarcação. Subiu à bordo três malucos com meia-calça na cabeça gritando para qualquer cabeça de todo o quarteirão ouvir: “Todo mundo parado, isso é um assalto”. Vale lembrar que as pessoas não costumam caminhar enquanto fazem uma viagem tranqüila em uma linha de ônibus tradicional. A primeira badalada da arma de fogo do cidadão fantasiado acertou um passarinho que fazia ponto por aquelas bandas e fez com que todo mundo descesse correndo por todos os cantos do balaio. Os três malucos ficaram completamente desordenados com a confusão e não puderam evitar nem mesmo a fuga do motorista e do trocador.
Os filha-da-puta da meia calça descarregaram o tambor da arma enquanto assistiam as últimas almas desaparecerem na esquina. Rodaram a chave na ignição e levaram embora o último carro operacional da linha 747. Tempos estranhos, meu amigos. Tempos muuuito estranhos. Na dúvida, pegue um táxi.