sexta-feira, outubro 22, 2010

Não há mal nenhum em navegar

Não há mal nenhum mal em vagar. Mesmo que nem tudo seja mar, entre uma onda ou outra é só deixar os braços correndo contra a corrente, ficar nadando como quem nada sem destino, como quem sabe da importância do caminho, sem força, sem fraqueza, apenas deixando acontecer.

Não há mal nenhum em navegar. Mesmo que nem todo barco tenha a sua proa, que nem todo amor saiba da sua dor, entre um horizonte e outro mora sempre uma ilha, ondulando no calor como uma miragem, como um pensamento perdido na saudade de tudo que poderia ter acontecido.

Não há mal nenhum em viajar. Mesmo que seja meus olhos nos seus olhos, meus dedos nos seus dedos, minhas respostas nas suas perguntas desencontradas, desencantadas, irreparavelmente desesperadas para serem silenciadas em um passo, em um beijo, em um lampejo de vontade.

Não há mal nenhum em te amar. Mesmo que seja só por hoje.
E depois nunca mais.

Não há mal nenhum em te deixar.

Há?

quinta-feira, outubro 14, 2010

Sobre abrir as portas

Ele, simples ele, aventureiro das desventuras humanas, feliz poeta das desilusões premeditadas, dos desencontros planejados, das palavras requintadas, ritmadas, que ficam indo e voltando por suas pupilas dilatadas, escancaradamente encantadas como portas feitas de mosaicos coloridos, repetidos nas laterais, esteve na sua casa hoje, de branco, vestido como um profeta, um rebelde de cinema que fugiu de cena, foi para dizer coisas bonitas, perdidas, cheias de mentiras gostosas, bem debaixo dos teus ouvidos, na altura do pescoço, por cima dos seus ombros arrepiados de uma vontade deliciosamente perigosa de abrir de vez as suas portas da alma, desta alma que grita, que chora, que pede de mansinho uma chance de ser livre hoje, amanhã, e de dois dias depois.

Você deixou ele entrar?
Vampire Weekend - M79