segunda-feira, março 15, 2010

Promessas descumpridas

Prometi que não me apaixonaria por você, que não te ligaria, que não pensaria como teria sido se não tivéssemos voltado para casa antes de ver o sol nascer na última noite que estivemos juntos. Prometi que não ouviria mais a terceira faixa do Wilco, a quarta do Fleet Foxes, a quinta do The xx, cheguei a esconder o Blonde on Blonde embaixo do banco do carro, fingi que não conhecia Visions of Johana e todas as outras músicas de amor que poderiam desprender os pensamentos e sentimentos que estive tentando evitar. Prometi que dormiria cedo, que acordaria tarde, que não escreveria mais nenhuma das minhas verdades, e que você ficaria para sempre nas minhas lembranças do passado, das noites passadas, das nossas conversas que tanto enganaram o silêncio das nossas vidas solitárias.

Não funcionou, veja bem.

Aqui estou eu escrevendo, pensando e insistindo. Não durmo e continuo escutando tudo que tinha escondido dos meus sentidos, das minhas vontades enlouquecidamente apaixonadas, das minhas palavras desencontradas nas estrelas pequenas que pontuam o céu limpo e escuro. Irreparavelmente apaixonado com tudo que fomos, com tudo que nunca poderemos ser, e até com o silêncio que agora existe entre nós dois, dias e meses depois de termos embaralhado os nossos destinos em uma dúzia de sorrisos longínquos e sinceros. Nunca arrependido, mas agora – e eternamente – perdido dentro da minha própria vida, aumentando e abaixando, escrevendo e apagando, negando e, finalmente, se acertando com vento, ao desalento, à mercê do nosso desesperado contratempo. Estou me libertando e, enfim, me entregando. Tardiamente te encontrando aqui: dentro de mim mesmo.

Bernardo Biagioni

quarta-feira, março 10, 2010

As vezes eu ainda preciso de você

Noite atrás de noite eu me pergunto quando é que você foi, se você volta, se amanhã eu vou te ver parada em pé em frente a minha porta, ou se os nossos lábios vão voltar a se encontrar em alguma madrugada desta estação que acabou de começar. Me pergunto quando é que a saudade vai falar mais alto que a distância, que essa nossa insistência em negar os nossos instintos mais decididos, incisivos, desmedidos e incompreendidos pelos acalantos sinceros das nossas almas continuadamente perdidas. Também me pergunto se dançaremos mais uma vez juntos – como na nossa primeira noite de Liberdade – se vamos discutir os problemas do mundo sorrindo outra vez, e se vamos levar adiante os nossos planos de fugir, de sair, de mergulhar pelos filetes de luz que a lua desenhou nas montanhas escondidas em cada uma das esquinas desta cidade. Deito na cama, então, sem respostas, sem certezas e razões, esperando meus sonhos acordarem para que eu possa, enfim, dormir com você mais uma noite. Por apenas mais uma noite.

Bernardo Biagioni
The xx - Heart skipped a beat

quarta-feira, março 03, 2010

Nossas insinceras despedidas

Segurei na palma da mão a última lágrima que escorreu do seu rosto. “Porque está assim?”, perguntei, por fim, depois dos minutos de silêncio que se seguiram depois do último beijo, dos últimos beijos. Silêncio, de novo. Vi-a abaixar o rosto pausadamente, encarando os próprios pés se arrastarem pelos azulejos grandes e espaçados do chão, o mesmo chão onde já tá tínhamos deitados tantas e tantas vezes para encarar o teto branco, imaginando o céu estrelado. “É porque te amo”, respondeu, baixinho, ainda com os olhos mergulhados na imensidão profunda da sua alma, de onde vinha toda a sinceridade das quatro palavras despejadas com uma força que era só sua.

Sorri, sozinho.

Ela voltou o rosto para cima, mais uma vez com calma, e dessa vez trazia consigo um daqueles seus sorrisos mais enigmáticos, performáticos, e misteriosos. Chegou seu corpo para mais perto, pegou minhas mãos nas suas mãos que pairavam lá embaixo, na altura da cintura, e puxou meu rosto para perto, para bem perto, para que seus lábios abertos pudessem alcançar um dos meus ouvidos. Repetiu, então, a frase que tinha dito antes, dessa vez quase em silêncio, e repetiu de novo, e de novo, como se quisesse eternizar nos meus tímpanos e sentidos uma verdade que não era só de hoje, nem só de amanhã.

Limpou as lágrimas, sozinha.

Deixou seu rosto correr para os lados, buscou nos pensamentos e nas suas incertezas uma certeza que estava entalada na garganta, no peito e no despeito, e brincou mais uma vez com os segundos do tempo. Seus olhos encontram os meus, se desencontraram, e as nossas mãos se apertaram e se desenlaçaram pela última vez, lá embaixo. Tomou um último gole de vento, e de coragem, trouxe de novo seus lábios para perto, agora certos, e confessou outra vez nos meus ouvidos, sussurrando: “Mas preciso ir embora”.

Caminhamos então para a porta.
E nos despedimos, mais uma vez, sorrindo.


Bernardo Biagioni