segunda-feira, outubro 29, 2012

sandy

Faz parte de sentir dor - desarmonia e desamor em um mundo que se serpenteia estranho em um espiral de angústias acalentadas pela profusão das lástimas arrastadas em transe. Cada gole de fôlego arrebate os pulmões de preceitos e anseios, de escolhas e de respostas - corpos que se cruzam e que não se tocam, olhos que se olham e não brilham, lábios que se estalam, mas não queimam.

Perdemos de nós mesmos nesta última curva desesperada. A estrada irradia inquieta pelo horizonte como um convite desafortunado de agarrar a vida na fuga, em luta, em busca de uma terra que respire brisa - respire mar. 

Somos agora essa geração desperta - convicta e incerta - que se enfia pelos descaminhos de esquinas pouco iluminadas atrás de perguntas que se perdem no eco. Uma luz que brilha no universo opaco - um vazio preenchido de riscos dissimulados e necessários - uma chama descontrolada que anda, avança, e destrói. Toda tempestade que vem, vem para regar a nossa alma que dói.

segunda-feira, julho 02, 2012

nos teus mares quero navegar

Não destrata a fé, mas desanda a calma. A vida pra mim é um universo que brilha, inspira, queima e centelha a chama de uma existência plena, e serena, que conforta e irradia a derradeira rebeldia de amar, e de ser amado. Sou louco e não me arrependo. De ter vivido - e estar vivendo - cada um dos ventos que serpenteiam desatentos  os descaminhos e contratempos que escrevemos no nosso destino. Vejo além e não minto. Vamos nos sentir para sempre - agora que a brisa sopra intermitente por cima do nosso barco desancorado.

terça-feira, junho 26, 2012

posteriori


embaralho os astros, os planetas, as certezas. tenho um barco que navega só, por margens incansáveis de pureza. enxergo cometas, anseios e desejos. as estrelas parecem o brilho, que um dia desenhei na sarjeta. tenho um peito forte, e por sorte não me esqueço. sinto que vou sobreviver para sempre, mesmo que este tempo doa, voa, e nos esqueça.

terça-feira, junho 19, 2012

voa


Dobra o vento e o sentido, os versos e os suspiros entregues aos descaminhos desconversados em silêncio. Dói o peito e desanda a alma - a chama desesperada que incendeia e ilumina a estrada alardeada pelos percalços do tempo. Tenho vontade de fugir toda vez que respiro, toda vez que persisto, toda vez que insisto em um amor que ainda não inventaram. 

Desperta as lástimas e os anseios, os desejos e desassossegos entregues à vontade iminente de me misturar às montanhas. Perder-me nos traços e compassos desnivelados pelos dedos mágicos de um desenho em transe. Invento fôlego na saudade da poesia que gesticula a sobriedade da vida. Toda vez que abro os braços, sinto em mim mais uma despedida.

terça-feira, maio 08, 2012

ar

Ouvi jazz e perdi do caminho. Descendo o oceano, o veleiro perguntou. De onde vem o vento, pra onde vai o mar. Me dê respostas, porque coleciono perguntas. A sobriedade fere o homem, que não sabe onde aportar. 

Vejo sentido, mesmo quando sentido não há. Dobre o peito, sinta o tempo. O desamor é uma miséria, que não quero ter que cobrar. O barco treme, mas não naufraga. Nascemos para existir, não para respirar.

Aprendi com neruda, e não pestanejei de hesitar. Carrego em mim o amor maior do mundo, ainda que por vezes ele não tenha a quem amar. Soa fraco, mas não nego. Escute só a tormenta, que a brisa pode causar.

quarta-feira, abril 25, 2012

Por que chamar de lar, a casa que está queimando?

Se não se importa, eu digo. Amanhã cedo levanto e escrevo que estou partindo. Meu amor, você sabe o caminho. Faz tempo que tenho desconversado os astros em conversas e em desejos. Perdoe-me os anseios, os desassossegos e minha falta de jeito para falar que amo. Sou louco e me encanto, com um mundo que ainda não inventaram.

Não troquei a maçaneta da porta, e não sei mais quando te vejo. Quero que você continue com as chaves, enquanto desfaz os descaminhos que percorremos. Carrego Saudade, porque Vontade pra mim é pouco. Se todos os caminhos do universo me levassem a seu beijo, eu ficaria. Mas não conheço nenhum amor, que durma tão cedo.

Sim, me dói, mas esta distância me parte a esperança. As vezes sinto que nos tocamos tão pouco, perto do que o vento sugeriu que aconteceria. Pense no tempo, as noites, e o primeiro dia. Lembre como estava o céu, os cometas, e como a gente reagia. Meu amor, eu não vejo sentido em nada, que não tenha poesia.

sexta-feira, abril 20, 2012

todos os dias ela me faz querer ir a mar

Deite a mão no peito e escute só o despeito que pode ser amar. Afagar assim o vento na saudade da vontade de correr meus dedos pelo seu desassossego iminente. Vamos fugir de novo enquanto a cidade arrasta a primavera distante pelos campos em centeio. O tempo embaralha os astros, os lapsos e colapsos em desespero profundo. Destrata a força, mas a fé eu seguro. Daqui em diante o que sobra são só duas promessas - e o futuro. Nos vemos amanhã. E o mundo.

quarta-feira, março 14, 2012

pura

Saramago me deu um beijo, quando eu tinha doze anos de idade. Eu fiquei cego, tateando no escuro, arrastando passos desacertados no assoalho que rangia opaco. A casa era grande e espaçosa. Muita gente me olhava, enquanto eu me perdia e ofegava, mergulhado em um espiral de angústias e anseios embaralhados na brisa que soprava pela porta da sala.


Aprendi sobre o mundo olhando a paisagem se transformar na janela do carro. Sempre receei as mudanças e os desapegos, as serras diminuindo e o sol se pondo, em um ponto que já conhecia. Sabia das curvas e de seus sacolejos e, ainda assim, pedia um pouco mais de silêncio. Acho que ouvi tanto, quando menino, que até hoje consigo sentir algumas palavras gritando.


Nunca gostei de poesia, mas escrevo. Passei a evitar algumas músicas, quando senti que poderia perder o controle. Tenho um pensamento que me acompanha, no sol ou na sombra, de colorir o meu tormento. Não alimento o destino, mas fecho os olhos para que o tempo venha me tocar. Tudo que escrevo leva Vento, porque dia desses eu abri os braços e… E comecei a voar.

segunda-feira, março 12, 2012

farol

Parece incerto o sentido do barco. Meia dúzias de passos estatelados nos filetes de sal esfarelados pelas ondas que quebram na areia. Perdi da Terra no desandar dos dias. Caminho sorrateiro me enganando pelos cheiros que salpicam o universo em conflito.


Deixo quieto todo o desafeto que embaralha os pensamentos serenos. Confio em saudade e no vento, libertei de mim os devaneios desatentos que apontam os destinos incertos. Não carrego dor, ou lamento. Entrego ao tempo todo o sofrimento que o mar veio me arrastar em versos.


Não sou certo, mas enxergo. Meu destino é o infinito da complacência humana, o encanto, e o desencantamento mundano. Navego porque nego toda a entrega que não seja plena. Não sei para onde vai o mar, em tormento. Mas sigo desafiando em silêncio minhas lembranças de amor. E de medo.

sábado, março 10, 2012

volver

Levante o leme, sobe a corda. Olha só estes tempos estranhos serpenteando pelas ruelas estreitas, bares esfumaçados, quebradas quentes e iluminadas pelos desencantos mundanos. Tem me tirado o fôlego viver e respirar, e sorrir e chorar, dobrar o inconsciente atento para amar com menos dor, menos pudor. Reviver a poesia que canta e encanta, os lábios e rastros perdidos na outrora desventura de viver entregue ao vento que sopra distante no oceano.


Estamos todos loucos, soltos e entregues ao desamor do tempo. Sentimos falta de sentir saudade, vontade, e toda a bondade que alimenta o frescor dos versos. Todos os caminhos soam incertos na busca e procura por um amor que queime, que arda, mas que conforte as desilusões corriqueiras arrastadas por estas quarta-feiras de frio. O sol queima, mas a lua afaga. Deito todas as noites na cama para embaralhar os astros e colapsos que dançam em chama.


Sobra a fé e a amargura. Que o vento venha e cure cada uma dessas angústias que desarticulam a continuidade da vida. Confio no silêncio e no futuro os beijos e as tardes de sossego que o tempo tira. Nego todas e qualquer uma das mentiras que atrasam o perpetuamento do encanto que mergulha profundo pela percepção plena. Meus versos vão, mas voltam. Entorto o leme e solto a corda para encarar mais outra vez o mar em revolta.