Saramago me deu um beijo, quando eu tinha doze anos de idade. Eu fiquei cego, tateando no escuro, arrastando passos desacertados no assoalho que rangia opaco. A casa era grande e espaçosa. Muita gente me olhava, enquanto eu me perdia e ofegava, mergulhado em um espiral de angústias e anseios embaralhados na brisa que soprava pela porta da sala.
Aprendi sobre o mundo olhando a paisagem se transformar na janela do carro. Sempre receei as mudanças e os desapegos, as serras diminuindo e o sol se pondo, em um ponto que já conhecia. Sabia das curvas e de seus sacolejos e, ainda assim, pedia um pouco mais de silêncio. Acho que ouvi tanto, quando menino, que até hoje consigo sentir algumas palavras gritando.
Nunca gostei de poesia, mas escrevo. Passei a evitar algumas músicas, quando senti que poderia perder o controle. Tenho um pensamento que me acompanha, no sol ou na sombra, de colorir o meu tormento. Não alimento o destino, mas fecho os olhos para que o tempo venha me tocar. Tudo que escrevo leva Vento, porque dia desses eu abri os braços e… E comecei a voar.
Um comentário:
demais!
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