Meu amor, estou indo. Deixo aqui minhas últimas palavras presas perto da maçaneta da porta, minhas chaves ficam no parapeito da janela – como a gente combinava – e está tudo exatamente como você gosta, duas caixas de som ligadas, as luzes apagadas e as portas cuidadosamente destrancadas nas duas trancas prateadas. Trouxe comigo aquela nossa foto de braços abertos na estrada, os nossos dois últimos bilhetes de viagem – você sabe que eu gosto de colecionar – e a mochila grande, a maior delas. Ainda não sei o que vou fazer, mas andei pensando e talvez o melhor mesmo seja deixar essa cidade, essas minhas bobagens, e ir por aí sem medo. Preciso respirar, me libertar de verdade e sentir falta de você. Eu preciso sentir a falta de você.
Bernardo Biagioni
Bernardo Biagioni