E ali então vai ele, camisa de malha preta, jeans arrastando pelo chão e o par de tênis que nunca foi lavado, caminhando, brincando com as próprias incertezas e sem nunca olhar para trás. "Seu Antônio" assiste tudo do último andar, sombrancelhas caindo pelos olhos e o rosto todo tenso, preocupado, cheio de velhas morais católicas que ficam remoendo pelo seu estômago junto dos últimos queijos Minas que gostou de provar. A vizinhança sabe que o sujeito está mesmo indo embora, que os passos vão continuar passeando com firmeza pelo labirinto de buracos que é aquela calçada antiga de uma tradicional cidade mineira custe o que custar. Estão todos prostrados de fronte as tendas, quitandas, barzinhos de uma cerveja só e vendinhas de um e noventa e nove, olhando e cochichando sobre o prodígio que debandou do barco, pulou a cerca e agora vai tomar o mundo por entre os dedos como se fosse apenas tomar o mundo por entre os dedos. "Vamos, vamos atrás dele", alguém diz, outro repete, mas um terceiro presente estica o dedo e manda que fiquem exatamente onde eles estão. Este último sabe e nem precisa explicar para ninguem a razão de deixar tudo como está: Este momento é só e apenas de Fernando Costa de Faria Biagioni e ninguém, escutem, ninguém vai impedir que ele fuja para sempre da liberdade contida que tentou viver nos últimos vinte e tantos anos. "Vá, menino!" Vá viver o que a vida quer que você viva.
Um comentário:
Um dia a gente sempre arruma nossas coisas e vira na próxima esquina ver e viver o que a vida quer pra gente
Beijo!
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