Quando eu penso em você minha serenidade é posta em prova. O passar dos segundos, mísera medida de tempo, corroe minha alma numa chama febril. Se meus olhos escorregam para aquele retrato teu, fazem-se em inútil chuva, já senil. Meu pensamento se descontrola em contentamento doente. Só de pensar em pensar em você meus dedos reclamam e clamam por pedaços de papel. Pergaminhos à solta, espalhados pelo meu quarto e fustigados pelos passos que traço. Seu nome está escrito no teto, no verso, no espelho do banheiro e até no meu destino incerto. Sua ausência me consome e me some aquele dom de ser feliz que se expressava tanto, mesmo corriqueiro. Os muitos passos que arrisco pela casa são vestígios sofridos de esperança que tão pouco me resta. Na cozinha, cozinha-se lembranças de um ultimo beijo teu. No quarto, minha alegria é esquartejada em pedaços tristes de melancolia aguda. As vezes me prendo de fato, nos cômodos, nos vácuos só para tocar, recostar onde um dia você encostou. Mesmo a torneira ou o chuveiro já estão em lágrimas de tanto ver como estou. Sim, me deixou eu farrapos, maltrapilho mal-tratado, em versos decadentes, viciosos, preenchidos em lacunas lotadas. Nem mesmo com todas as luzes acessas, até aquela velha luminária perdida naquela antiga gaveta foram capazes de iluminar-me os medos. Resta-me somente pranto, traços suaves do acalanto que você me ensinou pra te ninar. Resta o mimo de meus versos que tanto lhe dediquei para você somente os olhar. Se for preciso volto a tua janela, compro outra viola pra te serestar. Compro ainda uma flor bela, e te levo pra jantar. Mas te peço, com sinceridade, não se vá assim, levando parte de mim e me ancorando em saudades. O meu coração todo te pertence, até mesmo essa dor pinta-me contente. Não vá não, fique dez, quinze, vinte minutos. Um dia, dois, invente! Num ligo nem mesmo se dizer que prefere ficar para sempre!
Fica?