segunda-feira, agosto 01, 2011

Para onde estou indo

sim. tem sido realmente estranho. os beijos, os encontros e os desencontros. as buscas, as perguntas e as respostas. as cartas que andei assinando para ver se silencio um pouco da angústia que vive em mim. uma angústia de viver hoje um pouco do amanhã. essa angústia que tanto tira o fôlego como me coloca para respirar. ou então mergulhar ainda mais fundo.

viver tem sido estranho. é que o amor não compreende mais os nossos anseios vespertinos. a liberdade é uma promessa que nos prende em uma busca injustificada. não sou feliz sozinho. mas também nunca encontrei a felicidade de um amor tranquilo.

porque amar só foi bom, até agora, quando a tormenta dobrou meu barco. quando não tive para onde ir. quando o tempo tirou minha âncora, minhas certezas, meus planos e objetivos sinceros e calculados. quando me senti um marinheiro só, perdido no vazio da noite, mas com a certeza quente e reconfortante de que alguém estava me esperando lá atrás no porto.

mas agora eu aprendi a partir - a despedir e a chegar. e não me sinto mais um estranho, no meio de um mundo tão... estranho. conforme disse o professor Thompson, "quando as coisas viram estranhas, o estranho vira profissional". Hoje, com toda modéstia, eu sou sim um profissional nesta arte de estranhar o Vento.

E então aposento aqui o Tempos Estranhos. Duzentas páginas de relatos apaixonados e sinceros. Que talvez vire um livro. Que talvez não signifique muito. Que talvez volte a existir um dia. Que talvez...

Mas isso é longe de ser um fim. Agora eu estou na estrada. E agora eu sei voar. Continuo vivo, leve e solto. Escrevendo coordenadas e inventando direções. Jornalismo e poesia. Amor e medo.

Se os tempos agora estão realmente estranhos, é bom que a gente saiba por onde caminhar.

Agora estou indo por aqui, www.paraondeestamosindo.tumblr.com

Um beijo, e obrigado. Mesmo.

Bernardo

Barcelona, 01.08.11

segunda-feira, junho 13, 2011

eu decidi sair para respirar no ar

eu sai essa tarde para poder caminhar ali até a esquina, sentir um pouco dos filetes de sol esquentarem o inverno que invadiu às nossas almas nas últimas semanas de frio. já tem alguns dias que estou tentando encontrar uma luz diferente, algum tipo de brilho que queime ainda mais o sentimento que meu corpo sente quando estou diante da janela, olhando para a cidade, inventando caminhos desconhecidos só para ver até onde eu consigo seguir para além da linha que some o vento.


é estúpido, mas as vezes sinto que vou encontrar uma resposta para todos os mistérios do mundo se ficar mais cinco minutos encostado na calçada da rua, fumando um cigarro, desconversando promessas antigas enquanto seguro minhas duas últimas garrafas de cerveja vazias.

dói querer tirar do fogo uma faísca encandecida, um traço de vida que respire mais do que o próprio Tempo, sair numa quinta-feira para encontrar perdida na esquina um Amor que responda às dúvidas da vida simplesmente jogando os seus cabelos embaralhados para fora do vidro do carro. é uma busca insustentável pela experimentação do infinito sobre o mundo, quando finalmente nos tornamos livres para sentir mais, amar mais, e navegar mais.


não estou procurando nada que seja eterno, mas simplesmente uma chama que conforte o frio que pode ser uma segunda-feira de silêncio; alguém que eu possa esbarrar sem querer na rua sergipe e sentir de novo aquele aperto no peito, uma outra razão no mundo para eu não ter que voltar para casa tão cedo.


poder deixar ela em casa e então pegar o caminho mais longe para casa, subir avenida acima com as janelas todas abertas, o vento balançando os versos que Jamie Woon canta pelos alto-falantes estourados. ter com quem dormir, ter com quem acordar, e ter por perto uma saudade que queime, que arda, que doa de tão irreparável, inevitável e necessária. um amor para a vida inteira. mesmo que dure só para hoje, agora, enquanto o sol vai descendo pelo horizonte alaranjado.

quinta-feira, maio 19, 2011

as vezes eu acho que estou vivendo no meio de um furacão forte, desses que duram dias, mas dessa vez é como se estivéssemos no meio do maior deles, o maior que já existiu. o tempo todo eu tenho a sensação de que estou sendo jogado de um lado para o outro, de um lugar para o outro, como um barco na maior tempestade que encontra pelo caminho. é como se fosse aqui, agora, o epicentro do terremoto do tempo, quando algumas coisas ficam, outras coisas vão, e tudo, todos os dias, todas horas, e todos os segundos passam a fazer parte daquilo que está começando agora.



as vezes eu tenho a sensação que nunca existiu uma época melhor para viver do que esta, 'agora'.

segunda-feira, março 14, 2011

não precisamos ter para onde ir

Estou colocando tudo na mala, três camisetas, uma calça, nós dois abraçados naquela noite de frio, dois blocos de anotação em branco cortados em linhas horizontais azuis, dois lápis pretos bem apontados e nenhuma borracha, nenhum medo, nenhuma nostalgia. Quero carregar comigo só tudo isso que podemos ser se nunca deixarmos de sermos nós mesmos, um, o outro, dois apaixonados simples pelos desencontros do acaso, dois poetas silenciosos que se perderam eternamente em uma troca de olhares em um corredor deserto, uma rua cheia, uma noite de verão que amanheceu pincelada pelas gotas dos orvalhos que acordam cedo.


Tenho que partir porque minha alma tem dessa de seguir, tem dessa de ficar palpitando em chamas quando é alardeada pelos percalços da vida, do destino, das cobranças e dos desatinos desnecessários que apetecem o peito despreparado para o amor que é apenas pleno. Tenho que ir para ver se nos entendemos em caminhos contrários, em sentimentos desesperados pela saudade imediata dos beijos que roubamos um do outro, das noites que atravessamos sem combinar, sem planejar, sem hesitar por conta de chuva, do vento, de tempo e de temporal.


Viajo para ver se você aceita o amor que a gente tem. Esse amor que vai. Este amor que vem.


Não sei quando volto - e nem sei se deveria voltar - mas espero de você o sorriso, a compreensão, um beijo de despedida encostado na promessa que nos veremos de novo apaixonados um dia, dirigindo para cima, escondendo para baixo, cortando a cidade descobrindo caminhos encostados nas montanhas iluminadas pelos filetes de lua que iluminam o céu estrelado. Tenho que partir para te amar mais - para sofrermos menos - para ver se nos entendemos na complexidade de nos aceitarmos como somos, inconstantes, efêmeros, insensatos, tocando a vida avante estrada adiante sem nunca sabermos de nenhuma direção. Assim estranhos, assim eternos, assim felizes. E loucamente apaixonados pela nossa incansável contradição.

domingo, março 13, 2011

deixe seu amor comigo

Desço aqui porque do Alto já não posso mais escrever nada além do atento contratempo de querer você por perto, independentemente da certeza da oscilação do vento, das chuvas e temporais que descem e sobem pelas montanhas que desenhamos nos dedos na segunda noite que saímos para descobrirmos nós mesmos juntos. Arrepia assim um filete de frio no peito pensar que posso não mais beijar o seu pescoço daquele jeito sem jeito, um domingo de frio, uma noite de medo, quando me pego ali do outro lado do espelho andando de um lado para o outro com as velhas novas musicas arrastando o meu desassossego para fora da janela aberta para a chuva.


Eu não sei amar, veja bem.


Por mais que eu tente, sente os dedos extasiados no papel branco e limpo, por mais que eu invente cartas desesperadas e lágrimas desajeitadas em palavras guardadas no peito, lembranças desencontradas nas duas ou oito noites em que dormimos abraçados juntos, por mais que eu cante e espanto os meus anseios vespertinos, e mesmo quando eu danço e acalanto os pássaros que pousam no calor dos meus ombros cansados, por mais que eu viaje e veja o mundo explodindo em centelhas de almas de pessoas maravilhosas que sentem, que vivem, que vão, que não voltam…


Amor para mim continua sendo sempre um soluço engasgado na alma, é mais forte que o próprio ímpeto humano de querer controlar as reações corporais, temperamentais, trôpegas e oscilantes. É que amar para mim é como um tiro que parte, que fere, que fura, que queima e que arde só pela vontade de seguir em frente, adiante, engolindo as têmporas sofridas da vida e as cicatrizes de saudade que ficam manchadas no corpo depois de uma madrugada de vontade. Não é nada que careça um mínimo de controle, razão e ponderação. O meu amor é inconsolável, enganoso e termina toda que vez que explode um pedaço nas estrelas e nos acasos que esbarramos quando cruzamos o mesmo caminho.


Dói amar você.


Escrevo é para você ver se me entende - se por favor me entende - porque se eu não for assim eu não serei parte do meu eu, o meu eu que grita, o meu eu que chora, o eu que me abandona para poder deslizar as mãos pelas águas e mares do mundo como um marinheiro que nasceu para não aportar. Vez ou outra eu preciso muito disso - desistir de você e de mim mesmo - para poder ter um pouco do que respirar, do que ofegar, do que encher os meus pulmões de calmaria e precisão. É que eu te amo. Amo mais do que sei suportar. E por isso viajo e remo, remo e remo. Porque só o mar me conforta o meu amar.

domingo, fevereiro 06, 2011

seguindo estrada acima com devendra banhart

Permita-me sol o crepitar do fogo, coloca assim uma chama mais quente na minha alma, uma chama que dance, uma chama que arda, uma chama que queime mesmo quando apagada, quando não alarmada pelos lampejos gracejados dos desencontros mundanos. Quero que tudo que tenha dentro de mim se inflame de vontade, de desespero profundo, de desencanto continuo, um pedaço de vida que ande sempre comigo, Morro abaixo, Morro acima.


Quero amar, sol. Mas só sei amar se for para sempre.


Permita-me também a calmaria, permita-me assim dois segundos de suspiro; meu corpo inteiro mexe rápido demais quando inventa de esbarrar nas vontades da Vida, Subir Morro, Descer morro, amar todas as noites como se todas as noites fossem as ultimas noites para se amar com sinceridade, com sobriedade, com a Verdade que só o Agora pode permitir.


Permita-me lembrar do seu nome, sol. Permita-me desenhar o seu desenho em duas claves de sol maior.


Porque agora eu estou partindo - indo e ondulando - seguindo estrada acima com devendra banhart repetindo as mesmas musicas no estéreo estourado do carro, vinte e nove cidadelas aparecendo e desaparecendo pela janela, chuva e vento no caminho. Permita-me Sol que eu não encontre nem sombras e nem destino, nem medos nem delírios, e deixe só o meu rosto sorrir mais, a minha alma cantar mais, e minha vida inteira ser mais, mais, mais, mais, mais.... Mais ate do que eu poderia suportar.