Inventamos pra gente uma casa no meio do inverno, feita toda de pedras, perdida entre árvores secas, altas e sem folhas, pinceladas de branco pelos cristais de neve que mergulham no vento com calma. É lá que nos encontramos quando sentimos saudade, quando nos perdemos dentro de nós mesmos no meio das conversas que arriscamos na rua, com os pensamentos ondulando trôpegos pelas lembranças dos nossos primeiros beijos ontem, neste mundo que existe de verdade. Da janela não conseguimos enxergar muito mais do que um lago, que está sempre refletindo os nossos sorrisos, e uma dúzia de montanhas que vem e vão entre a névoa que corre para o leste, sempre como se estivesse dançando, oscilando, se desconcertando pelas linhas do horizonte.
Lá ela está sempre sentada no chão, encostada na cama, e carrega nas mãos uma taça que nunca se esvazia, mesmo quando precisa abrir outra garrafa. Todas as noites antes de dormir, fica se perguntando sobre os sonhos, sobre as verdades, e sobre as vontades que tem sentido de fugir de si mesma para viver ali, longe de casa, alimentada pela liberdade que sente quando estamos juntos, a menos de dois metros da lareira. Gosta de passear seus dedos pelas minhas costas, começando pelo pescoço, enquanto ouvimos For Emma tocando na vitrola.
Mudamos para lá deve ter um mês, ou talvez um pouco menos, e não temos conversado mais do que com os olhares, com os dedos, nos descobrindo no silêncio da neve que bate na janela fechada da sala. Não dá para saber por quanto tempo que vamos viver assim, perdidos na ilusão, negando as nossas distâncias, os nossos desencontros e os percalços que sobrevivem nas nossas verdades desajeitadas, ainda despreparadas para entender que já estamos preparados para escrever que estamos nos amando. Estamos bem, enfim, por ora acertados com as nossas ansiedades que descompassam cada uma das batidas dos nossos peitos. Pela janela que dá para os fundos, ficamos sonhando com a realidade que dorme mais esta noite nos esperando lá do outro lado do mundo.
Bernardo Biagioni
Bon Iver - For Emma, forever ago
Lá ela está sempre sentada no chão, encostada na cama, e carrega nas mãos uma taça que nunca se esvazia, mesmo quando precisa abrir outra garrafa. Todas as noites antes de dormir, fica se perguntando sobre os sonhos, sobre as verdades, e sobre as vontades que tem sentido de fugir de si mesma para viver ali, longe de casa, alimentada pela liberdade que sente quando estamos juntos, a menos de dois metros da lareira. Gosta de passear seus dedos pelas minhas costas, começando pelo pescoço, enquanto ouvimos For Emma tocando na vitrola.
Mudamos para lá deve ter um mês, ou talvez um pouco menos, e não temos conversado mais do que com os olhares, com os dedos, nos descobrindo no silêncio da neve que bate na janela fechada da sala. Não dá para saber por quanto tempo que vamos viver assim, perdidos na ilusão, negando as nossas distâncias, os nossos desencontros e os percalços que sobrevivem nas nossas verdades desajeitadas, ainda despreparadas para entender que já estamos preparados para escrever que estamos nos amando. Estamos bem, enfim, por ora acertados com as nossas ansiedades que descompassam cada uma das batidas dos nossos peitos. Pela janela que dá para os fundos, ficamos sonhando com a realidade que dorme mais esta noite nos esperando lá do outro lado do mundo.
Bernardo Biagioni
Bon Iver - For Emma, forever ago
4 comentários:
Bernardo........sua forma de escrever me lembra um livro de romance...muito gostoso fe ler.
abraços ....o amor é lindo.
"Não dá para saber por quanto tempo que vamos viver assim"
"Não dá para saber por quanto tempo que vamos viver assim"
Amo você. Por esta e todas as outras estações.
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