Segurei na palma da mão a última lágrima que escorreu do seu rosto. “Porque está assim?”, perguntei, por fim, depois dos minutos de silêncio que se seguiram depois do último beijo, dos últimos beijos. Silêncio, de novo. Vi-a abaixar o rosto pausadamente, encarando os próprios pés se arrastarem pelos azulejos grandes e espaçados do chão, o mesmo chão onde já tá tínhamos deitados tantas e tantas vezes para encarar o teto branco, imaginando o céu estrelado. “É porque te amo”, respondeu, baixinho, ainda com os olhos mergulhados na imensidão profunda da sua alma, de onde vinha toda a sinceridade das quatro palavras despejadas com uma força que era só sua.
Sorri, sozinho.
Ela voltou o rosto para cima, mais uma vez com calma, e dessa vez trazia consigo um daqueles seus sorrisos mais enigmáticos, performáticos, e misteriosos. Chegou seu corpo para mais perto, pegou minhas mãos nas suas mãos que pairavam lá embaixo, na altura da cintura, e puxou meu rosto para perto, para bem perto, para que seus lábios abertos pudessem alcançar um dos meus ouvidos. Repetiu, então, a frase que tinha dito antes, dessa vez quase em silêncio, e repetiu de novo, e de novo, como se quisesse eternizar nos meus tímpanos e sentidos uma verdade que não era só de hoje, nem só de amanhã.
Limpou as lágrimas, sozinha.
Deixou seu rosto correr para os lados, buscou nos pensamentos e nas suas incertezas uma certeza que estava entalada na garganta, no peito e no despeito, e brincou mais uma vez com os segundos do tempo. Seus olhos encontram os meus, se desencontraram, e as nossas mãos se apertaram e se desenlaçaram pela última vez, lá embaixo. Tomou um último gole de vento, e de coragem, trouxe de novo seus lábios para perto, agora certos, e confessou outra vez nos meus ouvidos, sussurrando: “Mas preciso ir embora”.
Caminhamos então para a porta.
E nos despedimos, mais uma vez, sorrindo.
Bernardo Biagioni
Sorri, sozinho.
Ela voltou o rosto para cima, mais uma vez com calma, e dessa vez trazia consigo um daqueles seus sorrisos mais enigmáticos, performáticos, e misteriosos. Chegou seu corpo para mais perto, pegou minhas mãos nas suas mãos que pairavam lá embaixo, na altura da cintura, e puxou meu rosto para perto, para bem perto, para que seus lábios abertos pudessem alcançar um dos meus ouvidos. Repetiu, então, a frase que tinha dito antes, dessa vez quase em silêncio, e repetiu de novo, e de novo, como se quisesse eternizar nos meus tímpanos e sentidos uma verdade que não era só de hoje, nem só de amanhã.
Limpou as lágrimas, sozinha.
Deixou seu rosto correr para os lados, buscou nos pensamentos e nas suas incertezas uma certeza que estava entalada na garganta, no peito e no despeito, e brincou mais uma vez com os segundos do tempo. Seus olhos encontram os meus, se desencontraram, e as nossas mãos se apertaram e se desenlaçaram pela última vez, lá embaixo. Tomou um último gole de vento, e de coragem, trouxe de novo seus lábios para perto, agora certos, e confessou outra vez nos meus ouvidos, sussurrando: “Mas preciso ir embora”.
Caminhamos então para a porta.
E nos despedimos, mais uma vez, sorrindo.
Bernardo Biagioni
6 comentários:
sim, muito bom! lembrei de alguns momentos assim, com suas peculiaridades e trejeitos pessoais que falam mais profundamente que as palavras em si.
Uauu...
Bernardo, te confeço que estou apaixonada peles seus textos. Tão sinceros e tocantes. Muito bons.
Parabéns pelo blog. Se puder venha me visitar também. Será sempre bem vindo.
seus textos são maravilhosos. leio e releio sempre! totalmente de coração.. ás vezes chega dói ler, em um bom sentindo!
Sempre intenso.
Escreve tão bem quanto sempre. Tão indizível, tão só você.
Um brinde: viva você!
"O que a memória ama, fica eterno. Te amo com a memória, imperecível." [Adélia Prado]
Porra, sensacional! Tu escreve muito bem, passa uma emoção enorme, parabéns!
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