Sempre disse não antes mesmo de pensar que poderia dizer sim. Não escutava as investidas maliciosas do orvalho matinal que se ajeitava nos vidros dos carros estacionados na rua e pensava - apenas pensava - que toda aquela música que tocava na madrugada era sua. Rá, como eu ria disso tudo, andando de um lado para o outro, correndo os dedos pelos ponteiros despontuados do relógio da parede e vendo a noite ser dia, a chuva secando e as nuvens se abrindo. Vivia pela metade - e ainda vive, claro - e hoje eu consigo ver isso nitidamente. Suas vontades eram dormentes, suas súplicas tristes e seus desejos eram tão e tão pequenos quanto a felicidade que parecia ter. Pensava lá na frente, no depois do depois, na curva dos meses, nos encontros arrependidos e nos lábios que se perdiam pelos deslaços do tempo. Não soube viver o presente e acabou se perdendo do nosso futuro. E hoje não escreve mais, não sorri tanto e todos seus incontáveis sonhos estão mais uma vez conversando com seus pensamentos surdos. Completamente surdos.
Bernardo Biagioni
Bernardo Biagioni
Um comentário:
meu deus, como eu precisava de ler isso.
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