sexta-feira, março 06, 2009

Calorzinho

Não faz mal. O calor que desce pela atmosfera é tão quente que você tem a ligeira sensação de que pode Tocá-lo. A palma da sua mão escorrega pela testa para conter o suor, mas a água densa se esquiva e se infiltra pelos poros dilatados dos seus dedos. A sensação que fica é de impunidade – Nada que você fizer poderá suprir a vontade desumana do Tempo de arrancar-lhe a serenidade mental. E então você tenta desfazer tudo em um sorriso. Escancara os dentes para driblar as condições climáticas e se engana intimamente de que será capaz de sobreviver. Mas aí vem mais uma rajada de vento pela lateral, a brisa que atravessou e derrubou a Serra avança rapidamente até ganhar cada extremidade do seu corpo. Subitamente sua alma é acometida de um desejo carnal, o cheiro de esperma que vem dos prostíbulos corre pela avenida larga e desafoga entre suas narinas castigadas. Suas genitais respondem aos desejos profanos do mundo, são duas e meia da tarde e você luta contra uma vontade avassaladora de procriar a espécie humana. Mas passa. Uma respiração profunda resguarda sua sobriedade por mais alguns instantes – A porra do sinal de trânsito não quer ficar verde e você quer matar o filha da puta que projetou aquela merda. Agora, então, é a vez do ódio se apoderar dos seus pensamentos. Seus olhos ficam vermelhos e suas mãos começam a tracionarem um movimento majestoso - Você quer dar um soco em alguém. Aí parece que Deus está de sacanagem com você porque, do nada, aparece um guardinha da BHtrans para reger toda a orquestra do Trânsito. Mas você não pode ser preso e toda sua vontade de encaixotar a Autoridade se rende a um sorriso forçado. As lágrimas começam a correr por seu rosto e rolam pelas estrias nojentas que dominaram o seu ventre. O desespero provoca uma alucinação perigosa e sua visão turva passa a enxergar as chamas do Inferno. São quase três horas da tarde e você quer dar um tiro na própria cabeça. Mas não faz mal. Logo essa vontade iminente de dar cabo ao Universo acaba. Você pára e se encara pelo retrovisor e tenta tranquilizar a situação: "Eu amo esse calor". Aliás... Todos nós amamos esTe calor,

Não é?


Bernardo Biagioni

2 comentários:

Thaís Pacheco disse...

AbsolutamenTe!

Darlan Caires disse...

eu senTi calor ao ler o TexTo em plena duas horas da manhã. Ah, o calor...