Deitou-se lentamente de bruços e me estendeu com a mão direita uma caneta preta. Olhei-a com curiosidade, fitei seus olhos que se dobravam na minha direção. Confirmou em um aceno com a cabeça que eu estava pensando certo, queria que desenhasse em suas costas, deixasse correr a tinta negra sobre sua pele branca macia. Fechei os olhos, abrumei o objeto sobre sua nuca, enquanto ela afastava os cabelos para as laterais. Arrepiou, sua pele explodiu em pontinhos espaçados, visíveis claramente a olho nu. Não sabia se devia continuar, ela olhou, consentiu com os olhos turvos, dilacerados de prazer. Fui deslizando a tinta por sua medula, sentindo cada vértebra, cada pulso de seu corpo se deliciando com o toque. Cheguei até a cintura, e nesse momento, senti um calafrio descer feito um fio terra por seu corpo, morrendo nos dedos dos pés. Sorriu, não que eu tivesse visto, mas o tempo havia sorrido, seu corpo balançou num gemido silencioso, mas barulhento o bastante para acordar os meus devaneios. Ela virou a cabeça para o lado com dificuldade, pediu que eu me aproximasse. Beijou-me a bochecha, o pescoço, sentia sua alma escorrer pelo canto entreaberto da boca, que exalava desejo. Tomou a caneta da minha mão, jogou-a fortemente contra a parede e me empurrou para longe. Ergueu-se, levantando consigo o lençol e os segundos que antecederam o beijo. Meu corpo recuou, cada pedaçinho passou a sentir medo, insegurança e frio. Chegou bem perto, olhou-me por dentro dos olhos, alcançando a retina, e a imagem que se formava antecipadamente me fazendo míope. Atravessou a minha face, colocou sua boca ao lado do meu ouvido e deixou escoar uma frasinha que ainda fere o meu tímpano: aprenda a desenhar.
Feito isso, saiu sorrindo.
Pintura Desgraçada.
Bernardo Biagioni
Um comentário:
Hahahahahaha lindo!
Voce que nao sabe, mas to sempre aqui! ;***
Bjo bi
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