segunda-feira, junho 04, 2007

Bailarina Desgraçada

Fixou seus olhos brilhosos nos meus e arrastou os pés, num passo de tango até então desconhecido, que acabou por traçar uma ferida no assoalho. Fui de encontro àquele brilho sobrenatural e fui contido pela careta que ela me fez, reprimindo meu avanço. Bateu os pés no chão, sapateava e rodava pelo quarto, fazendo escoar pela casa um barulho seco, vibrante, tão vibrante que se podia notar o ar tremer. Não abaixava os olhos nenhum segundo, havia uma sensualidade impar por trás daquelas pupilas dilatadas, esticadas para alcançar alem do breu na noite. Sentia-a transpirar por trás daquele vestido negro, era feito um suspiro do corpo requintado por uma chama vil, de amor carnal sedento. Não mostrava seus belos dentes, pelo contrário, mesmo com a boca fechada sabia bem que estavam cerrados, como se compusessem parte da concentração destinada aos movimentos oblíquos. Veio devagar em minha direção, percebi com o canto dos olhos que estava sobre os dedos do pé, e se não fosse pela razão, haveria dito que estava flutuando. Chegou bem perto, tão perto que senti sua face baforar uma sílaba incompreensível para meus olhos, e achei que iria me beijar. Riu quando notou que eu havia fechado os olhos, empurrando meus desejos alheios para o escanteio da vida. Puxei-a pelos braços, agarrei-a no meu peito e tentei beijar-lhe o pescoço, mas era inútil. Esquivava feito uma boneca de pano, sem ossos ou limites, deixava o busto cair de costas sobre o chão. Empurrou-me na cama e me pisou no peito, pela penumbra da saia percebi que trajava uma dessas ligas vermelhas, que atiçam a sobriedade do homem. Um calafrio de prazer desceu meu corpo e voltei a agarrá-la, dessa vez ela permitiu que eu a beijasse nos lábios, uma ou duas vezes. Mas diante meu despreparo, esquivou pela tangente e rodopiou o tempo e a certeza que me pendia. Era brincadeira de gato e rato, e eu, no posto do gatuno, corria com a boca aberta, os dentes afiados para atracá-la assim que distraísse. E ela gargalhava da minha inocência, da minha infância reprimida, dos tempos que a assistia bailar pelo buraco da fechadura. E feito um anticlímax desumano, tanto para essa prosa, quanto para minha vida, ela disse que já era hora.


Puxou

_____A

______Porta

__________E

___________Saiu

_______________Dançando.


Bailarina desgraçada.

Bernardo Biagioni


4 comentários:

Ricardo Villela disse...

Porra!

Ele eh meu amigo viu gente!! So avisando!..hehehehe

teve a manha bejoni!!
d+ mesm..viajei pacarai nisso!!
Abraco!!

Anônimo disse...

O melhor já feito.

Ju Seif disse...

MTO bom!!

Anônimo disse...

noh
boto fé MESMO
:)