A revolução não será televisionada. As emissoras de televisão hão de manter a mesma programação, se privando do direito de reportar o estopim. Vai ter atores e atrizes nas ruas, passarela ininterrupta do palco do teatro da esquina. Os seresteiros violarão o silêncio, com viola no dorso e palheta na mão. Hão de vir poetas de todas as regiões, motivados pela alforria que se explode na avenida. E vai haver carnaval, no meio desse vendaval hão de comparecer os verdadeiros pandeiros, que cismam em se esconder pelos becos escuros da capital. Virão guerrilheiros, soldados e militares desprovidos de alienação governamental, serão responsáveis pelas barricadas, livros e melodias compondo um muro estrutural. Hão de vir cabeças-chaves de governos de oposição, os quais desejam o massacre do neoliberalismo febril, e a imposição da justiça social. Há de chover confetes, os paralelepípedos hão de urgir de dor por sustentar a multidão que lhe caberá. Serpentinas cobrirão a luz do dia, traçando as cores do arco-íris no céu acinzentado. As paredes serão cobertas por cartazes e adesivos, ficarão por cima dos anúncios das Casas Bahia, ou da Cartomante da Alegria. Nas varandas dos prédios penderão bandeiras verde-amarelas, estiadas no mármore seco, escovadas até o chão. Os carros irão entoar uma sinfonia, feito copa do mundo, todos vangloriando a vitória da seleção. No Congresso não vai haver nada não, exceto euforia, cantoria em homenagem ao soerguimento da Brava Mãe Gentil. Os jornais impressos titularão o carnaval fora de época, mas bastante atrasado nessa era. E vai “haver futebol, choro e muito rock and róll”. A revolução não será assistida, mas será consumada, assim que decidamos atracar a panela aposentada na gaveta da cozinha, e juntarmos no Planalto Central para entoar uma bela melodia.
Bernardo Biagioni
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