Só mais tarde que eu fui descobrir que ela colecionava fotos 3x4 das pessoas que conhecia pela vida. E foi justamente esse estranho hábito que marcou o inicio das nossas brigas. Não que eu ficasse nervoso quando olhava para a parede do quarto dela e via uma centena de rostinhos, mas me dava agonia. Aquilo era uma espécie de obsessão, sei lá, mas tudo bem. Conheci-a nas aulas de francês que fazia semanalmente, talvez por ser um pouco mais velha, tinha uma dificuldade incrível de pronunciar as palavras, e toda vez que errava, olhava para mim e sorria. Teve uma vez porem, que ao invés de me lançar aquele sorrisinho idiota, ela virou pra mim e disse num sussurro: estou usando meias novas. É claro que eu indaguei no mesmo instante: heinnn? Ela sorriu daquela mesma maneira, e não sei por que, o sangue subiu-me às têmporas. E quando acabava as aulas ela me chamava para ir a sua casa, que ficava a dois quarteirões dali. Depois de oito meses improvisando desculpas espetaculares do tipo: “nossa, vai um cara hoje lá em casa arrumar a geladeira, não vai dar”, acabei tendo que aceitar o convite. Ela entrou na frente e fechou correndo a porta do seu quarto: “aii está muito bagunçado”, mas eu tenho certeza que era por causa das fotografias 3x4. Era uma casa modesta, paredes brancas e descascando, uma televisão dessas velhas que nem com aquelas antenas de dois metros e meio conseguiria sintonizar a rede globo. Me ofereceu um café, café? Caralho, quem oferece café hoje em dia? Mas tudo bem, não sou do tipo que reprime tradições do passado que, aliás, me parecem bastante peculiares. Aceitei, afinal, também não gosto de fazer do tipo mal educado. E ela veio com a xícara na mão, mas tropeçou na bonequinha Barbie que estava no chão e derramou aquele liquido preto todo na minha camisa. E veio correndo, achei que iria limpar o estrago mas me beijou a boca. Mas que beijo espetacular meeeu Deus. Alguma coisa nela tinha que ser bacana afinal! Beijei-a por minutos e nem liguei que tivesse uma barbie em casa, no meio da sala de estar. E em silêncio ela me levou ate a porta, e num suspiro disse: agora vá. E fui, não falei nada, também nem tinha o que falar. Também nem liguei para as pessoas na rua que olhavam para minha camisa manchada, eu estava sorrindo feito um bobo, sorrindo cara? É, me apaixonei por uma doida que colecionava fotos 3x4 e que tinha uma Barbie no chão da sala, com a qual devia brincar freneticamente. Mas quanto ás fotos eu só fui descobrir depois, foi meio que o início de nossas brigas sabe? Mas isso já é outra historia.
Bernardo Biagioni
6 comentários:
ehehe muito bom be
MAIS!
MAIS.
Isso me lembrou Le Fabuleux Destin d'Amélie Poulain.
Amélie!!
descobri isso daqui! vai me servir bem em algumas tardes!
eu absolutamente ADORO vc bibi... um beju
mais!
continue
manda mais dessa "muamba" ! abraço!
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