Naquelas tardes em Paris tudo que eu pensava era que tínhamos finalmente conseguido arrancar um fiapo de tempo da nossa linha do tempo, um filete mais colorido do que o caule, a linha central, e que parecia ficar ondulando livremente toda vez que algum vento suspirava para perto de si. Nossas conversas, caminhos e lampejos não poderiam fazer parte do real, do mundo real, onde tudo acontece por uma razão explicável, as ações, os gestos, e até o movimento caótico dos cabelos diante uma tempestade anunciada. Parecia sempre um sonho, um lapso da vida, do cosmos, uma chance transcendental de conseguirmos mergulhar de vez pelas veias recofontartes do mundo, essas estradas, essas viagens sem saudade. Nunca tínhamos horas para chegar, e nunca sabíamos quando iríamos embora, contando que não perdessemos o último metrô na estação do Louvre, em algum momento da madrugada. Naquelas tardes nós éramos livres, muito livres. E sabíamos disso.
Bernardo Biagioni
Bernardo Biagioni
3 comentários:
Achei teu blog por acaso. Estou seguindo-te. Teu texto me lembra que o melhor de cada viagem é o que ela faz com a nossa mente: permite a experiência de que cada momento seja único. Parece que fora do nosso território nativo somos outros, criamos outros e temos todo o tempo do mundo pra isso. Cada instante é só nosso. Parabéns pelas 'viagens'.
me apaixonei pelos seus textos
Sensação boa.
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