segunda-feira, junho 07, 2010

Nós só precisamos viajar

Esta foi uma uma Viagem sem destino, isso eu posso garantir. Não sentimos outra coisa senão a liberdade da nossa Alma quando colocamos os braços para fora do carro e escutamos no silêncio do tempo tudo aquilo que o vento tinha para nos dizer, a brisa, a alegria que existe inebriada na vida despida pelo calor incessante das estrelas que fibrilam no Teto da estrada. No banco do passageiro estava um sorriso mais largo do que o meu; não havia nada ali além da felicidade plena, das entranhas da percepção escancaradas e prontas para enxergar a magnitude e a infinitude que é o Mundo, os Versos, os Universos. Vamos juntos – eu disse, enfim – olhando nos seus olhos, no fundo dos seus pensamentos desencontrados que ondulavam trôpegos e certeiros pelos Bosques mais distantes de cada uma das nossas desventuras até então reprimidas pela Razão humana.

Não tentei puxar o cinto porque pensei que seria contundente seguir adiante, mais adiante, dobrar todas as esquinas e acabar com todas as ruínas que permaneciam inabaláveis nos descompassos do meu peito, onde não devem existir preceitos nenhum para Amar, para se mergulhar no Mar. Nós vamos continuar – pensei - e senti que seria capaz de deslizar os meus dedos pelos contornos das montanhas perdidas no Sul, remodelar os desenhos apagados da estrada, reacender cada uma das estrelas que anoiteceram esta noite ofuscadas pela luz da lua que brilha impune sobre o fim do céu azul.

Não temos para onde ir e nunca vamos chegar. Nunca. Importa apenas que estamos indo, seguindo, bravamente resistindo contra a calmaria da infelicidade, dos amores que se amam sem vontade. Pisei um pouco mais fundo no acelerador e vi pelo retrovisor todos os nossos medos deslizando envoltos na escuridão desesperada do passado, dos tempos passados, dos dias estranhos que acordamos com o coração insistindo em deixar tudo para trás. Nós só precisamos viajar – falei, por fim, dessa vez só para mim – e repeti uma vez, duas vezes, três vezes, até parecer que estava cantando, rimando, ensinando ao meu peito como é que se ama, como é que se vive. É só viajando que o homem pode ser livre.

Bernardo Biagioni
Alexi Murdoch - All my days

3 comentários:

gabriela pimenta disse...

precisamos viajar, de fato.

Thiago Elloard disse...

Esse texto me fez lembrar de algo que minh'alma desconhece em palavras, mas que sente. Sente e não deixa de sentir, de gritar e de sussurrar ruídos mudos em minha orelha esquerda, gelada, pelo frio da noite vazia que se faz presente em meus dias.

Inté...

Obs: Espero que leia minhas "reproduções de pensamentos" (Nome que dou às minhas frases sujas com letras rasgadas), você vai gostar, abraços.


Thiago Elloard

Adriano Mendes disse...

É só amando que o homem pode ser livre, de fato.