Hoje acordei com ela no telefone, do outro lado da linha, do outro lado do mundo, ofegante e enlouquecidamente apaixonada, apaixonada com a vida, dizendo que agora se sentia dona da própria poesia, dos desatinos destemidos que tinha descrito nas esquinas iluminadas da França por culpa daquele velho sujeito conhecido como Rimbaud, o poeta arrebatador dos descabimentos humanos, das escolhas perenes, dos sonhos platônicos adormecidos em peitos suficientemente preparados para receber a Salvação divina.
Sua voz tinha tudo aquilo que dizia Nina Simone enquanto não sabia que estava provocando um colapso no universo, de pé no palco do teatro empoeirado recitando versos perversos para uma plateia vazia. Eram – e ainda são - apenas dois ou três pagantes que suportam respirar tanta primaria, essa obra-prima pronta e desesperada que á Vida na sua essência, na sua insistência em se desabrochar em tantos cantos, em tantos acalantos, em cores e desamores perdidos nas músicas que atravessam cada um dos oceanos até despertar suspiros desmedidos em corações calorosamente desencontrados.
Ela falava e eu entendia tudo em silêncio, sem precisar de muito tempo, e em alguns segundos já estava respirando em descompasso pelo gancho, sentindo toda minha endorfina desaguar pelas artérias, correndo pelas veias, pelos vasos mais distantes, desestruturando a organização dos meus mais sensatos pensamentos. Vi, enfim, Clarice e Caio, pensei em Kerouac e resgatei Vinícius, todos eles juntos em uma mesa de bar, de frente para o mar, e depois na cama, aonde todos os seres irracionais se amam. Senti o mundo inteiro subitamente se implodindo em pedaços. Em pedaços múltiplos, despedaçados, loucos e entorpecidamente alucinados. Como orgasmos.
Bernardo Biagioni
Sua voz tinha tudo aquilo que dizia Nina Simone enquanto não sabia que estava provocando um colapso no universo, de pé no palco do teatro empoeirado recitando versos perversos para uma plateia vazia. Eram – e ainda são - apenas dois ou três pagantes que suportam respirar tanta primaria, essa obra-prima pronta e desesperada que á Vida na sua essência, na sua insistência em se desabrochar em tantos cantos, em tantos acalantos, em cores e desamores perdidos nas músicas que atravessam cada um dos oceanos até despertar suspiros desmedidos em corações calorosamente desencontrados.
Ela falava e eu entendia tudo em silêncio, sem precisar de muito tempo, e em alguns segundos já estava respirando em descompasso pelo gancho, sentindo toda minha endorfina desaguar pelas artérias, correndo pelas veias, pelos vasos mais distantes, desestruturando a organização dos meus mais sensatos pensamentos. Vi, enfim, Clarice e Caio, pensei em Kerouac e resgatei Vinícius, todos eles juntos em uma mesa de bar, de frente para o mar, e depois na cama, aonde todos os seres irracionais se amam. Senti o mundo inteiro subitamente se implodindo em pedaços. Em pedaços múltiplos, despedaçados, loucos e entorpecidamente alucinados. Como orgasmos.
Bernardo Biagioni