Fica difícil de imaginar o que ela viveu nos dias em que esteve se escondendo no meio do mato, perdida em um casebre de madeira, escutando pelas frestas das paredes o barulho da cachoeira, o barulho da noite, o grunhido dos morcegos. Sem ter vontade de dormir, sem ter hora para acordar, colocando para dentro doses incontáveis de álcool, tragos ininterruptos de cigarro e respirando poesia, respirando vida. Cambaleante, mas nunca bêbada o bastante a ponto de não saber dançar, de não saber valsar com as tristezas contidas que tinha deixado para trás na cidade. Puramente feliz - e verdadeiramente feliz – e por isso cantava e proclamava os traços e compassos do tempo, do vento, e do calor imensamente quente que invadia a madrugada sem calma, sem cautela. Nunca sozinha, mas eternamente solitária, de dentro do casebre ela esperava o dia amanhecer para que nunca mais precisasse dormir. Foram dias de despedidas, de fugas e de pouca saudade. Voltou ontem ou anteontem. E nunca mais vai ser a mesma.
Bernardo Biagioni
Bernardo Biagioni
3 comentários:
Suas poucas linhas permitem uma riqueza de detalhes que convidam a imaginação. Gostei muito desse!
Se você misturar o amarelo da cidade e o azul da estrada vai conseguir imaginar todos os segredos verdes que ela vive e guarda.
Cada dia mais apaixonante, cativante e mentalista é a sua forma de pensar descrevendo as ações, gostei desse.
Estou te seguindo.
Como foi o show do Faith No More? Ha-ha!
Abraço!
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