Mas, me diz: e se eu largar tudo? Largar o verso, o caminho, o sozinho e o inverso? E se eu sair pela estrada? Largar mão de sofridão, solidão e futura namorada? Apostar a minha miséria, colocar a minha cabeça à prova? E se eu deixar pra trás o escrito, o versículo e o proseado matinal? O Sorriso, a rosa e a cola? Largar mão da droga, da ex-sogra e o temporal. Cansei, não vale? Pensar dói, escutar machuca. Sou menino, olha? Não sei negociar, pechinchar, reclamar ou desconversar. Eu sou menino, não vê? O meu destino não prevê tamanha cobrança. Eu quero minha raiz, não crê? Quero a poesia sincera que marcou meus dedos de tinta. Não quero maquinizar, padronizar e nivelar. Preciso voar. Me deixe ir, senhor doutor? Me deixe arregaçar as mangas arregaçadas e descobrir o mundo - de novo. Eu quero de novo. Chega de tempo, atento, tormento e ilusão. Eu quero os 20 anos que você me mandou ter. Me dá? Largar mão de bobagem alheia, desapontamento e carreira. Me dá uma dose de liberdade, picaretagem e sinceridade? Larga mão de mim. Me vê uma estrada?
Bernardo Biagioni
Bernardo Biagioni