segunda-feira, maio 14, 2007

Fotos 3x4 (Parte II)

Voltando à historia da colecionadora louca de fotografias 3x4. Uma semana se passou, e de forma inversamente proporcional, crescia a minha expectativa por vê-la novamente. Ah, ela se chamava Aline, mas no primeiro dia de aula enquanto comia um churrasquinho no quiosque em frente à escola de francês, disse que eu a chamasse de Nine, e com a boca aberta, deixava à mostra os pedacinhos de carne entre seus dentes. Eis que chegou a tão ansiada quinta-feira, dia de ouvir os Bon Jours e Petit Gateaus de sempre. Cheguei mais cedo que o normal, parei o carro em estacionamento proibido, multa que veio impedir que eu desse um presente de aniversário para minha mãe. Entrei na sala, estava perfumado, uma colônia inglesa que mais fedia do que cheirava, e que me causava irritação no pescoço e nos pulsos. Ainda faltavam trinta minutos para começar a aula, tempo que dediquei a tremer as pernas e a coçar as irritações, que acabaram me dando um aspecto bastante avermelhado. Ela entrou, comia um X-Bacon sem salada que vendia no Trailer do Seu Manuel, do outro lado da Av. do Contorno. Olhou para a professora e resmungou um Bon Jour, acompanhado de um milho podre que saltou de sua boca. Sentou na cadeira quebrada debaixo da janela, como sempre fazia, e sequer teve curiosidade de olhar para onde eu estava, que à essa altura já estava ostentando pedaços de carne-viva na altura do pescoço. Não me perguntem o que foi falado naquela aula, nem sequer lembro das palavras que tive de repetir, que saíam com uma dificuldade anormal. Lembro de ter ouvido somente quando a professora suspirou enquanto apagava o quadro: Ahh, L’amour est tre beau, a frase ecoou nos meus pensamentos e desceu feito um calafrio pelo corpo. Bateu o sinal e Nine foi saindo, e parecia decidida a não lançar nenhum olhar para mim, mesmo que fosse por distração ou semelhante. Pois resgatei o vestígio de coragem que pendia na minha timidez e corri até ela, e a puxei pelo braço esquerdo. Ela virou e pude ver que estava mais feia que o normal, o que me atraiu de uma forma estranha. “Porra Eduardo, já falei que está tudo terminado entre nós”. Terminado? Mas eu ainda estava querendo começar. Ela deu três passou a frente e parou, mas continuou de costas. Corri ate ela e a beijei, talvez o melhor ato de impulso que tenha tomado em toda minha vida, pois naquele momento senti no sangue o porque de ter passado o perfume vagabundo e de ter parado em estacionamento proibido. Ela me empurrou depois do que me pareceu uma eternidade de beijos, e disse, enquanto passava a manga da camisa nos lábios: só tem um jeito de você entrar para minha vida de vez. Falando isso ela deu de costas, cobriu o rosto que corava e disse baixinho, que fiz força para escutar: quero uma foto 3x4 sua! Aquilo me deu um medo, uma sensação esquisita. Uma foto 3x4? Porque não uma com meu cachorro, ou com meu avô fofinho ou uma ordenando os gados da fazenda? Uma foto 3x4 era demais! Foi naquele instante que ela me pediu pela primeira vez uma fotografia 3x4 minha. Só mais tarde que eu fui descobrir que seria parte de uma coleção numerosa, que forraria toda a parede seu de quarto. Foi quando as nossas brigas começaram sabe? Mas, ixi, isso já é ouuutra historia.


Bernardo Biagioni

3 comentários:

Anônimo disse...

Ótimo final. =]

rear window disse...

to rindo sozin.. tem meia hora.. acordei o italiano do quarto do lado.. traduzi pra ele e ta nos rindo aqui hahahahahhahaha

Unknown disse...

"Foi quando as nossas brigas começaram sabe? Mas, ixi, isso já é ouuutra historia."
Quer dizer que tem mais!??!
Puts!!!Se um dia vc parar de escrever aqui me conta pra onde foram seus textos...AMO!!!
Bjo! Bruna