quarta-feira, outubro 30, 2013

sem nos encostar

Todos os caminhos e toda uma expressão - alaranjado um horizonte a cintilar pelos prédios de tintas escritas, uma saudade e uma dúzia de lampejos perdidos nos trajetos e nos trejeitos de respirar o vento que sopra do mar e escorre pelas montanhas. Vivo e não nego a existência que habita a dormência dos tempos sonolentos - estamos a escutar a revolução centrifugando as almas robustas de mentes compartilhadas que se esbarram em parques, em praças, a resistir e a sonhar com o desencantar da ordem - organizando para desorganizar os sentimentos volúveis que vagueiam o ar. Uma vida inteira a naufragar no fôlego e na vontade de respirar - desenhamos no vento a calamidade do tempo, nos beijamos sem nos encostar, olhos que viajam a encontrar um sentido para tanto amor e para tanto desassossego. 

quarta-feira, maio 22, 2013

linhas horizontais

estes ventos que fraquejam e latejam, crescem e desfazem, as montanhas são empecilhos a parte, muitas mesas de jantar em silêncio, velas acesas e ceras escorrendo quentes em mesas de vidro, cheiros que vem prontos da cozinha, muita vontade e pouca desenvoltura, uma dúvida latente sem pergunta, todo mundo apaixonado, mas todo mundo fugindo, belos horizontes em horários inoportunos, pouca flexibilidade e muito vazio, muitos projetos mas poucas arquiteturas, infinitos prédios para poucos passeios públicos, faltam passeios no parque e cinemas de rua, poucos encontros para tanta saudade, receio um tanto esta cidade, mas insisto, 

segunda-feira, maio 13, 2013

Cidade


Cinzas ao vento, a busca de sentidos que lacem os laços, meu amor, os relatos, de encontros que não tivemos, de beijos que não trocamos, de noites que não nos tocamos, quantas madrugadas que estamos perdendo, sorrisos que ainda não conheço, despedidas que faltaram, verdades que inventamos, saudades imaginadas em conversas engarrafadas de silêncio vazio, quando o mundo ainda carece de abrigos, o universo em conflito, tanto amor e tanto empecilho.

Desta cidade, resta quanto tempo, curvas que ainda não desenhamos, projetos que ainda não planejamos, linhas que esquecemos, estruturas que não alinhamos, conversas que andamos evitando ao longo de olhares que se cruzam, páginas de histórias incompletas, indolentemente incertas em versos que não tem dono, em palavras em desabandono, em medos e tropeços, um prelúdio intermitente, um hiato desumano.

Quanto de mim ainda resta, quanto de nós ainda existe, o horizonte que não é belo, prédios cinzas em regresso, meu amor no concreto, retas que não se cruzam, pontos que não se tocam, lágrimas que escorrem em decadências ternas, nossas tardes na praça, nossos pés na grama, as árvores que talhamos combinações matemáticas imprecisas, frutas que cultivamos, sonhos que alimentamos em viagens que ainda não percorremos.

Nosso amor, o asfalto, o aroma dos muros, dos carros, dos poucos beijos, dos velhos abraços, dos bares que não frequentamos, das placas grandes verdes e iluminadas, piscando a dor, a vontade, meu amor, as cervejas que não tomamos, as lástimas que suplicamos em lábios de cigarro, a revolução que almejamos, as esquinas que estivemos evitando, os tempos que estamos vivendo, a estranheza dos astros, as estrelas e seu brilho, tão belos os colapsos.