Estou colocando tudo na mala, três camisetas, uma calça, nós dois abraçados naquela noite de frio, dois blocos de anotação em branco cortados em linhas horizontais azuis, dois lápis pretos bem apontados e nenhuma borracha, nenhum medo, nenhuma nostalgia. Quero carregar comigo só tudo isso que podemos ser se nunca deixarmos de sermos nós mesmos, um, o outro, dois apaixonados simples pelos desencontros do acaso, dois poetas silenciosos que se perderam eternamente em uma troca de olhares em um corredor deserto, uma rua cheia, uma noite de verão que amanheceu pincelada pelas gotas dos orvalhos que acordam cedo.
Tenho que partir porque minha alma tem dessa de seguir, tem dessa de ficar palpitando em chamas quando é alardeada pelos percalços da vida, do destino, das cobranças e dos desatinos desnecessários que apetecem o peito despreparado para o amor que é apenas pleno. Tenho que ir para ver se nos entendemos em caminhos contrários, em sentimentos desesperados pela saudade imediata dos beijos que roubamos um do outro, das noites que atravessamos sem combinar, sem planejar, sem hesitar por conta de chuva, do vento, de tempo e de temporal.
Viajo para ver se você aceita o amor que a gente tem. Esse amor que vai. Este amor que vem.
Não sei quando volto - e nem sei se deveria voltar - mas espero de você o sorriso, a compreensão, um beijo de despedida encostado na promessa que nos veremos de novo apaixonados um dia, dirigindo para cima, escondendo para baixo, cortando a cidade descobrindo caminhos encostados nas montanhas iluminadas pelos filetes de lua que iluminam o céu estrelado. Tenho que partir para te amar mais - para sofrermos menos - para ver se nos entendemos na complexidade de nos aceitarmos como somos, inconstantes, efêmeros, insensatos, tocando a vida avante estrada adiante sem nunca sabermos de nenhuma direção. Assim estranhos, assim eternos, assim felizes. E loucamente apaixonados pela nossa incansável contradição.