segunda-feira, março 14, 2011

não precisamos ter para onde ir

Estou colocando tudo na mala, três camisetas, uma calça, nós dois abraçados naquela noite de frio, dois blocos de anotação em branco cortados em linhas horizontais azuis, dois lápis pretos bem apontados e nenhuma borracha, nenhum medo, nenhuma nostalgia. Quero carregar comigo só tudo isso que podemos ser se nunca deixarmos de sermos nós mesmos, um, o outro, dois apaixonados simples pelos desencontros do acaso, dois poetas silenciosos que se perderam eternamente em uma troca de olhares em um corredor deserto, uma rua cheia, uma noite de verão que amanheceu pincelada pelas gotas dos orvalhos que acordam cedo.


Tenho que partir porque minha alma tem dessa de seguir, tem dessa de ficar palpitando em chamas quando é alardeada pelos percalços da vida, do destino, das cobranças e dos desatinos desnecessários que apetecem o peito despreparado para o amor que é apenas pleno. Tenho que ir para ver se nos entendemos em caminhos contrários, em sentimentos desesperados pela saudade imediata dos beijos que roubamos um do outro, das noites que atravessamos sem combinar, sem planejar, sem hesitar por conta de chuva, do vento, de tempo e de temporal.


Viajo para ver se você aceita o amor que a gente tem. Esse amor que vai. Este amor que vem.


Não sei quando volto - e nem sei se deveria voltar - mas espero de você o sorriso, a compreensão, um beijo de despedida encostado na promessa que nos veremos de novo apaixonados um dia, dirigindo para cima, escondendo para baixo, cortando a cidade descobrindo caminhos encostados nas montanhas iluminadas pelos filetes de lua que iluminam o céu estrelado. Tenho que partir para te amar mais - para sofrermos menos - para ver se nos entendemos na complexidade de nos aceitarmos como somos, inconstantes, efêmeros, insensatos, tocando a vida avante estrada adiante sem nunca sabermos de nenhuma direção. Assim estranhos, assim eternos, assim felizes. E loucamente apaixonados pela nossa incansável contradição.

domingo, março 13, 2011

deixe seu amor comigo

Desço aqui porque do Alto já não posso mais escrever nada além do atento contratempo de querer você por perto, independentemente da certeza da oscilação do vento, das chuvas e temporais que descem e sobem pelas montanhas que desenhamos nos dedos na segunda noite que saímos para descobrirmos nós mesmos juntos. Arrepia assim um filete de frio no peito pensar que posso não mais beijar o seu pescoço daquele jeito sem jeito, um domingo de frio, uma noite de medo, quando me pego ali do outro lado do espelho andando de um lado para o outro com as velhas novas musicas arrastando o meu desassossego para fora da janela aberta para a chuva.


Eu não sei amar, veja bem.


Por mais que eu tente, sente os dedos extasiados no papel branco e limpo, por mais que eu invente cartas desesperadas e lágrimas desajeitadas em palavras guardadas no peito, lembranças desencontradas nas duas ou oito noites em que dormimos abraçados juntos, por mais que eu cante e espanto os meus anseios vespertinos, e mesmo quando eu danço e acalanto os pássaros que pousam no calor dos meus ombros cansados, por mais que eu viaje e veja o mundo explodindo em centelhas de almas de pessoas maravilhosas que sentem, que vivem, que vão, que não voltam…


Amor para mim continua sendo sempre um soluço engasgado na alma, é mais forte que o próprio ímpeto humano de querer controlar as reações corporais, temperamentais, trôpegas e oscilantes. É que amar para mim é como um tiro que parte, que fere, que fura, que queima e que arde só pela vontade de seguir em frente, adiante, engolindo as têmporas sofridas da vida e as cicatrizes de saudade que ficam manchadas no corpo depois de uma madrugada de vontade. Não é nada que careça um mínimo de controle, razão e ponderação. O meu amor é inconsolável, enganoso e termina toda que vez que explode um pedaço nas estrelas e nos acasos que esbarramos quando cruzamos o mesmo caminho.


Dói amar você.


Escrevo é para você ver se me entende - se por favor me entende - porque se eu não for assim eu não serei parte do meu eu, o meu eu que grita, o meu eu que chora, o eu que me abandona para poder deslizar as mãos pelas águas e mares do mundo como um marinheiro que nasceu para não aportar. Vez ou outra eu preciso muito disso - desistir de você e de mim mesmo - para poder ter um pouco do que respirar, do que ofegar, do que encher os meus pulmões de calmaria e precisão. É que eu te amo. Amo mais do que sei suportar. E por isso viajo e remo, remo e remo. Porque só o mar me conforta o meu amar.