Apaixonei-me por este verso. Sim este, de apaixonar-se. É que achei-o dentro de uma caixa, dessas de sapato, que a gente coloca debaixo da cama, para juntar fotos, cartas e poeira. Apaixonei-me pela foto que não temos juntos, pelo numero de seu telefone que não foi salvo na minha agenda. E sofro, mas me apaixonei por esse sofrimento, tão digno, tão humano. Por vezes chorei, mas foi de emoção, deixei que as lágrimas escorressem pela minha face livremente, contornassem sozinhas o meu nariz, a boca, e pulassem alegres pelo queixo. Apaixonei-me pela minha janela, coloco uma musica no fundo, e fico dançando, olhando as luzes da cidade brilhar, como se piscassem para mim. Sorri, e estou sorrindo, não que estejam prontos para tirarem uma fotografia minha, ou que alguém tenha contado uma piada. Mas sorrio, para a vida, para este verso. Ainda sinto o cheiro dela, apaixonei-me por ele. Sim, tomei banho, embora quisesse intimamente cultivar esse perfume para sempre em meus pulsos. Abracei meu travesseiro, senti vontade de ter um desses ursinhos, e não fiquei nada nervoso quando notei que não tinha sono. Contorci meu corpo nos lençóis, olhei para o teto, deixei meus olhos acostumarem com a escuridão, para assim desenhá-la no teto, com a alegria que escoava pela minha alma. Apaixonei-me por essa escuridão, em outro instante, tão negro, agora, tão claro. Pois sim, não temos mesmo fotos juntos, versos em comum, ou mesmo o numero do telefone um do outro. Mas, temos o tempo. Apaixonei-me pelo tempo, embora tenha ódio dele por ter levado-a consigo. Mas ele me disse para ficar tranqüilo, que se depender dele, uma linda historia vai ser escrita. E eles, ou nós, não seremos felizes para sempre, mas, sempre felizes. Sempre.
Bernardo Biagioni