quinta-feira, maio 08, 2008

Camping & Rock - Paranóia e Rock and Roll

Lembro de estar subindo uma montanha de lama com uma velocidade anormal. O único barulho que se ouvia vinha dos acordes da guitarra da banda Pink Floyd Reunion que lançava suas últimas lamúrias progressivas no palco. Minha respiração oscilava entre um momento e outro. Eu precisava de trabalhar, o Senhor do Jornalismo seguia clamando por meu nome. Estava frio, tão frio que meu corpo se expressava nas baforadas de fumaça que fugiam pelo canto entreaberto da boca. E eu corria, estou sendo seguido, sei que estou seguido, mas quem vem lá?


Camping & Rock 2008, o Woodstock brasileiro que rola em Minas Gerais, roubou para si quatro dias da minha serenidade mental. Nos dias que antecederam o evento depositei grande parte da minha preocupação no fato de contrair dengue por aquelas regiões. Outros anseios pairavam pelo ar, mas de fato pareciam menos importantes: não beber demais (“Bernardo, você está entrando em ambiente desconhecido”, minha consciência lembrava), não usar drogas pesadas e tomar banhos, pelo menos um por dia.

Mas, como era de se esperar, nos primeiros passos traçados por aquele terreno sagrado, minha consciência ficou perdida no vaso de água parada logo na entrada do camping. “Estou livre”, pensei e me orgulhei de ter despido os meus preceitos mais singelos. E essa parada de tomar banho ficou perdido num imaginário comum das cabeças que circulavam por ali. Não que eu tenho ficado quatro dias sem lavar os meus pecados com a graça que vem do céu, mas o meu único banho foi tão memorável quanto tenebroso.

Haviam me dito que o chuveiro ficava lá em baixo, ao lado do restaurante. Acordei o Raul, um amigo, gritando que uma aranha venenosa estava entrando pela fresta de sua camisa desabotoada. O sujeito levantou dando início a uma dança de “Sai Aranha” que durou alguns minutos. É claro que neste simples ato ele conseguiu demais proezas, tais como derrubar o lampião e transformar a barraca numa zona de “Coloquem fogo em mim, eu imploro”.

Passado o clima ruim provocado pela “puta brincadeira infantil, Bernardo”, perguntei sobre a localização da ducha quente mais próxima. “Eu te levo”, ele resmungou enquanto calçava umas sandalhinhas de Jesus. Eu devia ter imaginado que ele estava me levando para alguma treta, mas a ducha da piscina parecia um lugar razoável para um banho tranqüilo. Fingi que era invisível, fiquei de cuecão e encarei a água gelada enquanto os passantes cruzavam o cenário com olhares curiosos.

Mas a merda da água estava tão fria que minha visão começou a ficar turva. Eu colocava a cabecinha nos fios de líquido que saiam do buraquinho e saia correndo em volta da piscina, à procura de um calor remanescente dos últimos raios de sol. Descolei um sabonete desses de hotel e pintei-me de branco. Nesse maldito momento o chuveiro engasga, faz que “Vai”, mas não vai. Daí fica eu com o olhar perdido no horizonte, de cueca, todo branco e com o sabonete do hotel na mão. O Raul sorria: “Faz a dança do Sai Sabão agora, doidão!”

Quem dera ter água na piscina, sei que você pensou nisso. Tive que me lavar com a compra de 2L de água mineral, com direito a risadas por todo ambiente de trabalho. Mas tudo bem, “Eu sou melhor que isso”, pensei enquanto jogava meu couro cabeludo para trás. Enrolei-me na toalha e segui para nossas instalações porque eu ainda tinha que fazer duas entrevistas naquele dia.

Foi quando eu descobri que tinham invadido a minha barraca...

Mas, meu amigo... Isso é uma ooooooutra história!

Bernardo Biagioni