quarta-feira, dezembro 23, 2009

Ciao

E daqui de cima dá para ver ele partindo, mais uma vez partindo, jogou todas as malas que podia no banco de trás e agora vai seguir sozinho. Não deve ir longe, mas não deve ficar por perto - cada vez que vai, deixa aqui um pedaço de si, um pedaço daquilo que foi enquanto se arriscava pelas ruas escuras da cidade, noite atrás de noite. Está indo porque assim se sente livre, assim consegue respirar, gosta de sentir o cheiro das montanhas que cortam o horizonte, o vento que entra pelas frestas das janelas abertas e o som da música que se mistura com o som da aceleração, da velocidade. Não tem dia para voltar – talvez nunca mais volte – e carrega consigo folhas para escrever sua saudade, mapas para poder se perder no caminho e o maior sentimento do mundo. Este, que ele chama de liberdade.

Bon voyage!

segunda-feira, dezembro 21, 2009

Silêncio

Dói tanto que tira o ar, tira a vontade de respirar, tira a vontade de ficar em casa e não sair para encarar logo o mundo, as estradas do mundo. Por mais que se tente, é impossível não sentir ou disfarçar, está estampado nos olhos, no jeito de andar, no jeito de falar da vida e no jeito de conversar sobre o tempo, os dias, os próximos anos. Não se sente fome – e nem é possível saber quando é que se vai voltar a comer – e dá para ouvir bem nos ouvidos umas vinte e uma vozes tentando achar um motivo, um sentido, uma razão. Ao menos uma explicação para tanto silêncio.

Bernardo Biagioni
Slightly Stoopid - Open Road

sábado, dezembro 19, 2009

Aubes II

A verdade é que não se escreve aquilo tudo que estamos vivendo aqui, todas as noites aqui, por mais que pareça mesmo cenas e palavras de outros velhos romances que ando lendo e arriscando dia após dia. Nem coragem eu tenho – confesso – porque depois que escrevo percebo que meus textos talvez ainda não tenham consigo ser sinceros o bastante para descrever nem, sei lá, dois ou três segundos do que acontece quando a gente simplesmente se encosta pele com pele e beijo com beijo. Seu sorriso, nosso sorriso, nossos dedos se procurando lá em baixo e dois corações batendo aceleradamente juntos, bem juntos. Dá para sentir no peito que a cidade inteira já está dormindo - e que a gente está finalmente se reencontrando.


Bernardo Biagioni

domingo, dezembro 13, 2009

Verão

Fez de mim silêncio. Um desassossego inquieto no peito que sorri tanto quanto chora, vem tanto quanto vai, e pelas noites e madrugadas aparece e reaparece, sempre implorando por tudo e um pouco mais. Misturou meus versos com palavras desencontradas, assim como a chuva faz com as lágrimas, o oceano com os mares e as ondas com as águas que correm sem caminho. Virei refém de mim mesmo, da minha imagem preocupada refletida no espelho, um redemoinho de vontade sobre os desencontros esquecidos no passado e encontros perdidos no futuro. Chegou e trouxe consigo a vida que não se lê nos livros, o amor que ainda não foi escrito, e a promessa silenciosa de acabar com todas as lágrimas que o mundo ainda tem para chorar. Veio antes da hora - eu sei - Mas chegou para ficar.

Bernardo Biagioni

terça-feira, dezembro 01, 2009

Carta II

Quero te levar comigo, mesmo que isso não faça assim tanto sentido para quem acabou de se conhecer, de se esbarrar por aí, de se encontrar no mundo. Quero você comigo quando estiver deitado na praia esperando a chuva passar e, mais tarde, ficar em casa lembrando das ondas revoltas no mar quebrando nas pedras e explodindo no meio dos pássaros que voavam sozinhos para casa. Quero você por perto quando acordar e me encarar no espelho, sentir minhas palavras conversando com as suas, e escutar uma parte do seu corpo me implorando para ficar. Eu quero ir e não quero precisar te deixar.

Bernardo Biagioni
Dubbly - God President

Carta

Pouco importa a esquina, a música, qual rua, em qual lua e se a primeira palavra vai ser sua. Não importa o tempo, quanto tempo, os sacolejos do vento, as desventuras do que existe só e apenas dentro de você. Não importa para onde vamos mais tarde, ou se de fato vamos, mas que ao menos continuemos devidamente enlaçados pelos percalços de um doce esperado destino. E pouco importa o que vai existir depois de tudo isso. Desde que sejamos para sempre desatinos - sim, desatinos - e por ora enlouquecidos com o maior amor do mundo. O amor entre nós dois.

Bernardo Biagioni
Bonjah - Somewhere Anywhere